Olhe através de sua alma...

Uma paisagem qualquer é um estado de alma, segundo o filósofo Henri Amiel. Assim, ao olharmos várias vezes uma paisagem perceberemos sempre algo diferente e experimentaremos emoções distintas.

08 agosto 2011

Que lugares são esses? Que lugar é esse?


Paul Claval, em seu artigo, O território na transição da pós-modernidade, afirma que quanto mais o universo do qual as pessoas vivem é limitado, mais a identidade é vivida sob a forma da necessidade: o indivíduo não vê como poderia se subtrair àquilo que o grupo do qual ele faz parte, e aqueles que se lhe opõem de forma permanente, lhe impõe como disciplinas, valores, modos de ser e imagens.
A identidade está tão impregnada que ele não tem nenhuma necessidade de defini-la. Contenta-se em se opor aos outros, em dizer nós para todos aqueles que sente próximos, e em classificar o resto do mundo em algumas grandes categorias genéricas.

Ao refletirmos sobre a questão da identidade e sua relação com o território ponderamos: qual o vínculos que mantemos com nossos lugares? Que lugares são esses?

Metrópolis, cena do filme de Fritz Lang.

No filme de ficção científica, Metrópolis, lançado em 1927, de Fritz Lang, o tema dos trabalhadores alienados, retratados como um "rebanho desnorteado", remete-se a massa humana que não é qualificada para gerir seu próprio destino. Exausta do trabalho, física e mentalmente, um grande número de pessoas transitam pelos espaços das cidades se reconhecem pouco nos lugares onde vivem.

No filme , Metrópolis, os trabalhadores encontram em Maria, uma trabalhadora carismática, uma voz que os orientam. Grande é o mundo e seu Criador! E grande é o Homem! " .  
Através desta fala Maria profetizava a vinda de um "mediador", que viria a ser o coração "entre a cabeça (os pensadores) e da mão (dos trabalhadores).


Um mundo de tarefas repetitivas, pouco criativas, o uso excessivo de máquinas, computadores, celulares, a alta velocidade, causam o entorpecimento mental, diminui a criatividade, dificulta o reconhecimento do indivíduo no espaço.  Que lugar é esse?

Cena do filme Metrópolis: a relação homem x trabalho influencia na percepção do tempo e do espaço. Esta relação pode influenciar na alienação e no processo de desenraizamento.


Podemos, então, afirmar que a relação identidade-território, que é um processo em movimento constituído ao longo do tempo, dá ao indivíduo o sentido de pertencimento a um grupo e ao um espaço de vivência.
O sentimento de pertencimento atesta que o espaço transcende sua dimensão física e pode ser concebido como locus de práticas sociais. Nesta dimensão, o espaço agrega uma complexa trama de sociabilidade. Esta trama é que dá a esta porção do espaço o caráter de território, onde o indivíduo constrói sua identidade.

Mas que lugares são esses?


Fonte das imagens: http://ocsorgs.blogspot.com/p/midia-illuminati.html



05 agosto 2011

Patrimônio Mundial no Brasil - Ouro Preto, MG (PARTE I)

A primeira cidade a ser visitada no tour da lista do Patrimônio da Humanidade no Brasil é  Ouro Preto.
Nesta primeira abordagem falaremos sobre os principais aspectos de seu tombamento e sua inserção na lista de Patrimônio da Humanidade.
Numa próxima abordagem falaremos mais de sua paisagem cultural.

Ouro Preto é um dos sítios urbanos tombados  pelo IPHAN declarados pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Patrimônio da Humanidade.

A UNESCO utiliza dez critérios para avaliar a importância dos sítios históricos, e Ouro Preto foi escolhida por dois deles: representar uma obra-prima do gênio criativo humano; e aportar um testemunho único ou excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização ainda viva ou que tenha desaparecido.
Ouro Preto é, portanto, considerada especialmente valiosa para a humanidade desde 1980, quando conquistou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.
No ano passado os Correios  lançaram o selo comemorativo dos 30 anos da consquista do título.

 SELO COMEMORATIVO - O selo é uma homenagem da empresa, por meio da Filatelia, ao maior conjunto barroco brasileiro. O lançamento integra a série “Cidades Históricas”, visando promover as riquezas culturais do Brasil.


A cidade é catalogada também como Patrimônio Mundial no Brasil e possui rica paisagem cultural. Atualmente a cidade integra o Circuito Turístico do Ouro.

 MAPA DO CIRCUITO DO OURO -  Fonte: www.circuitodoouro.tur.br


Ouro Preto, foi fundada em 1698, e foi a primeira capital das Minas Gerais. Sua origem está associada a descoberta e exploração do ouro, atividade que transformou o local em centro urbano de intensa vida social, econômica e cultural. Em 1711 foi elevada a categoria de vila e era chamada de Vila Rica. Sua história está associada ainda à Inconfidência Mineira, movimento pró-Independência do Brasil.

Ruínas da Igreja Nossa Senhora da Conceição

O sítio histórico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Ouro Preto. O tombamento federal se deu em 20/01/1938 e 15/09/1986.
Conforme descrito no sítio do IPHAN, o desenho urbano de Ouro Preto é estreito e alongado, com a topografia acidentada dos vales e morros. Grande parte das casas tem um pavimento, mas há ruas que predominam os sobrados. Mesmo assim, a aparência homogênea da arquitetura permanece.
Um monumento de destaque é a antiga Casa de Câmara e Cadeia (1784), que hoje abriga o Museu da Inconfidência Mineira, centro de construção de memória histórica sobre o movimento.
Em 2010 o IPHAN criou um novo marco legal para apreservação do conjunto arquitetônico e urbanístico de Ouro Preto, as Normas de Preservação, que considera o sítio tombado em sua integridade e permite alterações e o crescimento da cidade, sem descaracterizar os valores culturais que a tornam patrimônio nacional e mundial.
A cidade é considerada o maior conjunto barroco do mundo e possui excepcionais monumentos arquitetônicos que se destacam na sua singular topografia.

Igreja São Francisco de Assis

Maiores informações podem ser obtidas nos seguintes endereços eletrônicos:


Na próxima visita veremos os ricos aspectos da paisagem cutural de Ouro Preto.





28 julho 2011

Patrimônio Mundial no Brasil e a preservação da Paisagem Cultural


Com o objetivo de divulgar o rico acervo cultural e histórico do nosso país resolvi publicar algumas informações sobre o Patrimônio Mundial no Brasil e divulgar as riquezas da paisagem cultural de cada um destes lugares.
Segue abaixo a lista do Patrimônio Mundial no Brasil .  Nas próximas postagens vamos conhecer um pouco do nosso patrimônio cultural.


Ouro Preto, Minas Gerais.

27 julho 2011

Os monumentos não são apenas objetos estéticos

Os monumentos (estátuas, templos, memoriais e outras formas simbólicas grandiosas) são representações materiais de eventos passados, que compõem a paisagem de certos espaços públicos da cidade.
Em cada cidade, pequena ou grande, tem-se sempre um monumento a representar um personagem ou um evento histórico relevante. Testemunha e comunica uma mensagem com intenção de perpetuá-la.
Convento de Nossa Senhora da Penha, Vila Velha/ES.

São intencionalmente dotados de sentido político, comunicando mensagens associadas à celebração, contestação ou à memorialização, visando o presente e o futuro. São, contudo, submetidos a diversas interpretações.
Os monumentos não carregam em si uma mensagem única, simplificada. Traz em si diferentes interpretações e significados que podem ser reapropriados ao longo da história. Simbolizam o passado e tem a potencialidade de transmitir sua carga simbólica ao futuro.

                Estátua da Liberdade, oficialmente A Liberdade Iluminando o Mundo, Nova York, Estados Unidos.

Os monumentos podem manifestar afirmação e contestação. Possuem forte potencial para perpetuar tradições fazer parecer antigo o que é novo e representar valores que são passados como se fossem de todos.
Os monumentos, entretanto, não são portadores de mensagens ou significados que representam toda uma sociedade ou grupo social. No entanto, podem seu significado pode ser evocado sempre que for necessário fortalecer a identidade social.
                              Monumentos aos mortos da Segunda Guerra Mundial (Monumento aos Pracinhas) - Rio de Janeiro / Brasil.
 
Os monumentos estão em toda parte, impregnando a paisagem de símbolos, cujos significados podem ser variáveis, denotando celebração, memorialização e contestação.
Nem sempre um monumento simboliza memorialização. Pode simbolizar contestação ou transmitir um evento negativo da história.

Lágrima, obra assinada pelo escultor Zurab Terezeteli, erguida na Praça Harbor View, em Bayonne, Nova Jersey em homenagem as vitimas do atentado terrorista de 11 de setembro. Os nomes das mais de 3.000 vítimas do 11/09 estão inscritas na base do monumento.

A carga simbólica dos monumentos é enorme e podem ser alteradas pelos grupos sociais ou políticos. A função de um monumento poucas vezes é compreendida pela maioria da população, mas, sempre é utilizado para comunicar uma interpretação da história que se quer perpetuar ou afirmar.
(Em itálico, citações de Roberto Lobato Corrêa)

31 maio 2011

A MEMÓRIA E AMNÉSIA COLETIVA


Henry Rousso afirma, em seu texto, A memória não é mais o que era, que consta do livro Usos e abusos de história oral (1998), que “seu atributo mais imediato é garantir a continuidade do tempo e permitir resistir à alteridade, ao ‘tempo que muda’, as rupturas que são o destino de toda vida humana; em suma, ela constitui – eis uma banalidade – um elemento essencial da identidade, da percepção de si e dos outros”.

 
Elementos que são suporte da memória coletiva são percebidos no cotidiano, apesar das rupturas que ocorrem ao longo da história e nos impedem de percebê-los integralmente.

A ausência da memória é a amnésia, que conforme adverte Jacques Le Goff, em História e Memória (1988), pode gerar graves pertubações de personalidade. A perda da memória coletiva pode determinar graves pertubações na identidade coletiva.

Quem saberia contar a história desta igreja? De onde nossos sentidos podem percebê-la? Até onde nosso olhar a alcança?


Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Vitória/ES. Fonte: PMV.

A igreja foi construída por volta de 1765, com autorização do bispado da Bahia, e foi iniciativa dos homens negros e pardos que integravam a Irmandade dos Homens Pretos. 
Tombada em nível federal pelo IPHAN não é vista integralmente em nenhum ponto da cidade.
Como mantê-la viva na memória coletiva?

29 maio 2011

ESPAÇO E LUGAR.

Yi Fu Tuan, afirma em sua obra Espaço e lugar: a perspectiva da experiência  (publicado em 1983) : "o lugar é um mundo de significado organizado" . Para Tuan  há uma afetividade nas relações do homem com o lugar. Assim a humanidade desenvolveu ao longo da história espaços com densidade de significados.
 Encontro de Folias em Muqui/ES, 2010 (Foto Lu Pessotti).
 "A sensação de tempo afeta a sensação de lugar. Na medida em que o tempo de uma criança pequena não é igual ao de um adulto, tampouco é igual sua experiência de lugar."  Na vivência e na experiência com os espaços lhe atribuimos significados. Nestes momentos o "conceito" de espaço se funde com o de lugar. Não pertecemos aos espaços, pertencemos aos lugares.

As experiências são guardadas na memória, e tranforma-se nas nossas histórias, nas lembranças. Ao evocarmos o passado, evocamos a experiência do lugar. Como seria relembrar e repetir uma experiência sem o lugar onde ela se deu?


Bandeira com São Sebastião. Encontro de Folias em Muqui/ES. (Fonte: http://www.camaramuqui.es.gov.br/museu_virtual_HistoriaMuqui_FoliaReis_Fotos.asp)
No âmbito da preservação dos espaços históricos cabe refletir sobre as tradições locais, as manifestações culturais que tem nestes lugares seu suporte.
Mas que a preservação da materialidade preserva-se a memória, a história e as tradições.



Sítio Histórico de Muqui/ES, 2010 (Foto Lu Pessotti).


O desafio da contemporaneidade é preservar não só a matéria, o suporte, mas o intangível que lhe dá significados múltiplos sedimentados ao londo do tempo.

27 maio 2011

ITAPINA - SÍTIO HISTÓRICO DO ESPÍRITO SANTO








Localizado a noroeste do Espírito Santo, o município de Colatina, onde está o distrito de Itapina, está a 120 km da capital Vitória, sendo 60 km pela BR-259 até o município de João Neiva e o restante, de João Neiva até Vitória, pela BR-101.

Itapina está a 30 km da sede (Colatina), e seu núcleo urbano desenvolveu-se às margens do Rio Doce na passagem do século XIX para o século XX.

O distrito foi um dos locais que obteve maior destaque na produção de café na primeira metade do século passado.

No ano de 2010 tivemos a oportunidade de realizar o Levantamento e Diagnóstico do Sítio Histórico de Itapina, no âmbito do Programa de Preservação de Sítios Históricos do Espírito Santo, marco fundamental da preservação do patrimônio cultural, que delineamos junto com a Secretaria de Estado da Cultura (SECULT). Pudemos constatar que vários são os desafios para revitalizar este marco da história espíritosantense.

Itapina enfrenta o isolamento econômico e social. Este isolamento trouxe conseqüências graves para a manutenção de sua vida cultural. Sendo assim, a conservação de seu rico patrimônio está ameaçada.

É urgente a necessidade de se investir na requalificação não só do espaço urbano e do casario, bem como, na revitalização econômica e social.

Itapina compõem com seus elementos construídos, naturais e suas referências culturais uma paisagem cultural.

O geógrafo Milton Santos define paisagem como um palimpsesto, um mosaico, (...) que tem um funcionamento unitário. A paisagem pode conter formas viúvas e formas virgens. As primeiras estão à espera de uma reutilização, que pode até acontecer...

Para a preservação do patrimônio cultural de Itapina é necessário um novo fluxo de energia vital, um novo frescor.

Sua materialidade está entre a agonia da estagnação que ameaça sua integridade e a esperança daqueles que com muitos esforços estão lutando pela sua preservação.

Fotos by Lu Pessotti em janeiro de 2010



18 maio 2011

O OLHAR EM PROFUNDIDADE

Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? (...) É janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo (...) Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo?
Leonardo da Vinci

A Última Ceia:  a perspectiva que induz o olhar a ilusão. A rigorosa geometria da perspectiva da obra de Leonardo da Vinci está associada a gestualidade e ao movimento.

A técnica da perspectiva é atribuída ao arquiteto Filippo Brunelleschi (autor da cúpula da catedral de Florença) na década de 1420. Leon Alberti tratou da perspectiva no tratado Da Pintura (1435). O objetivo é a representação do espaço em profundidade na pintura.

A perspectiva pode ser considerada uma dos principais contribuições do Renascimento, pois, permitiu não só a representação como a percepção do espaço em profundidade. Ou seja, a perspectiva instaurou um novo olhar.

De uma janela podemos induzir nosso olhar, organizar a paisagem, recriar e reorganizar os elementos da paisagem segundo suas posições e escalas.

Mas, afinal, das janelas de outrora que abriam para amplos horizontes, e das janelas de agora que se abrem para fragmenos espaciais, que perspectiva temos dos espaços que nos cercam?


Vista do  Mosteiro São Bento em São Paulo.
Foto de Naldo Gomes
Elementos da paisagem.urbana...Em que perspectiva podem ser retratados?  Poderia nosso olhar recriar uma nova percepção do mundo em meio a paisagens urbanas com tantos objetos dispostos?

Não ao acaso advertiu Erwin Panofsky, no ensaio Die Perspektive als symbolische Form, datado de 1927: "A perspectiva é, por natureza, uma espada de dois gumes".

Todo sistema perspéctivo é plural e contém em si o espaço e as diferentes temporalidades.
Talvez, então, a perspectiva que nosso olhar é capaz de captar (perceber? construir?) não seja tão aleatória, mas, pode ser uma técnica (ou ausência desta) aplicada no âmbito do planejamento urbano para a valorização ou "obstrução" de importantes elementos que constituem nossos espaços.
Cabe aqui uma reflexão...


   Reconstituição da experiência perspéctica de Brunelleschi (1377-1446) em Florença, c. 1416.
Illustrations by Jim Anderson






 

16 fevereiro 2011

Iniciando um percurso, uma viagem...


Rio de Janeiro - RJ

São Luiz  -Maranhão
O projeto inicial é expressar minha percepção de diferentes paisagens. Lugares que conheço, outros não. Proponho também convidar alguns acompanhantes nas primeiras viagens. Serão quatro olhares durante este ano de 2011. Quatro percepções que admiro e que demonstrarão seus olhares, diferentes do meu, mas, complementares ao meu pensar e minha percepção.



São Miguel das Missões - RS



Sigamos então... bons olhares!!!

Barreirinhas - Maranhão

Crédito das imagens - Imagens do Brasil, Ministério das Relações Exteriores.